domingo, 29 de maio de 2011

Mais uma mente genial...

Sabe quando você menos espera e... puft!! Você começa a enxergar as pessoas e... puft!! Grandes descobertas acontecem?
Bem, isso tem acontecido com bastante frequência na minha vida. Na postagem de hoje gostaria de apresentar-lhes uma dessas descobertas, mais uma mente genial. Refiro-me a Ricardo Ferreira. Seus textos (ao menos os que pude ver até agora) são dotados de certo tom melancólico e, como toda boa escrita, conseguem te levar a universos além... universos solitários, devo dizer, mas de uma beleza... Bem, muito bom mesmo!!!
Confira... Boa leitura!!

só quero te dizer o que não consigo falar na tua frente
o que não consigo tirar da mente
o que me deixa invulnerável

só quero te mostrar o que guardo só pra mim
o que me faz machucar e o que não cicatriza
o que me intimida, e o que me faz te amar

saber que tu não pode ser minha, mas pode fingir
saber que tu não pode ser minha, mas isso não me impede de ser teu

________

conte-me sobre essa semana
fale-me do teu emprego,
conte-me sobre o último fim de semana,
sobre os rapazes que beijou,
sobre os sonhos que sonhou,
sobre o amor que te deixou,

Fale-me se acredita em Deus,
se não tem medo de odiá-lo,
se só quer viver ou pensar em algo inexplicável,
conte-me sobre o último beijo apaixonado,
se foi amor mesmo ou fracasso,

e não esqueço de precisar de você,
porque te amo mais que tudo nessa vida,

tudo parece seguir bem,
mas você volta e me derruba no buraco da tua alma,
eu caio dentro de ti, me quebro feito pedra de areia,
que crianças jogam umas nas outras,

e eu beijo minha garota nos sonhos,
um pequeno passo e você está perdida.
_________

chuto a dor pra longe de mim
com toda a força q tenho
eu caio no chão,  cansado
não sei mais de onde tirar forças

você goza de uma vida boa,
eu simplesmente gozo,
me limpo com minha falta de esperança,
vejo seus pedaços espalhados no meu quarto,
luto contra isso tudo,
só pra te ver de novo
só pra te ver de novo

sei que irei te perder pro mundo em poucos minutos
mas talvez consiga parar o amanhecer pra te ter por mais alguns minutos

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Um bom presente... um texto!

Último dia 5 foi meu aniversário. Um presente, nada convencional (ao menos para mim), chamou-me a atenção: um texto. O que havia, ali, de tão especial? Ao certo, não sei... Mas quem não gosta de ver-se, através dos olhos dos outros, (re)construído?
Verdade!!Há quem não goste!
Mas eu... eu gosto!! Não tenho vergonha da imagem que crio no outro. De fato... Ela, a bendita imagem, também é parte do que sou... Mesmo que feia ou frágil. Seria ingênuo negar isso.
Enfim... Perdoados esses arroubos de reflexões baratas que antecedem o que interessa... Vamos ao texto!!


A MOÇA
Por Maria Eduarda Gomes Peixoto.

O nome insinuava qualquer coisa que lembre vida, assim breve e superficialmente, como só de relance. Mas, acaso vistes a moça? Não falo de saber-lhe a existência, a materialidade e a beleza. Falo de vê-la absolutamente. Ver a criatura viva, a mexer-se, a sorrir, a andar, a soar como música rente ao ouvido. Vistes? Não, eu sei que não. Há de se ter medo em ver aquela mulher, porque a mulher lívia só pode ser vista à queima-roupa. E eu a vi.
Desde que vi a moça, dei para pensar muito. Que acham de mim? Eu que só tenho o que achar da moça. Não me vêem como a vejo, porque ela é tão calma e fresca como rosa que acaba de desabrochar, e eu vermelha, muito vermelha, quase roxa, não tenho nada parecido com o mundo que ela leva nos olhos, assim feliz e suavemente, um mundo com certeza inventado. Eu tive inveja e amor pela moça de olhos castanhos. Tentei, cansáveis vezes, fazer parecer que então também carregava um mundo bonito à retina de breu, se não um mundo, pelo menos uma estrela, mas lembrava a moça de olhos de mel e logo se desbotava da vista minha falsa o pequeno liame de luz que, a muito custo, eu acendia. Pardavascos, novamente. São grandes como os dela, mas são negros. Uma escuridão só.
A voz. Ouvistes a voz? A voz da moça era lívia. Desafinada e lívia, como voz de moça mesmo, meio de mãe, em tom bruto de amor, meio de menina malina, uma verdade doída de ingenuidade e transparência. Eu, até ouvir a moça, orgulhava-me da minha voz. Sonora. Altiva. E só. Faltava-me a alma, um espírito que falasse por trás de mim e por mim, a ponto de alguém sacar um sentimento que me dói ou alegra e não apenas descobrir-me, mas também me amar e confortar-se à voz que sou. Era assim que eu ouvia a moça. Quando, em suas conversas, eu me sentia cômoda e em paz, a quase adormecer por confiança, imediatamente tentava me distrair, detalhes na blusa, brincos, livros. (Ela era afeita à leitura, como eu.) Eu mudava de assunto e tomava violentamente a vez de falar. Como pode? Ela era desafinada, falava e ria ao mesmo tempo, atropelando letras, baixando e subindo a entonação sem razão e insuportavelmente, como numa diafonia. Eu fiz canto! Como pode? Isso mesmo. Uma jandaia com alma e um sabiá oco, que queres tu ouvir?
A moça lívia era até onde eu, sem ela, nunca chegaria. Era uma vida que não a minha, e isso me corroía e sarava a carne ferida. Era o que vi no espelho há muito tempo, há tanto que me tornou um tempo que nunca existiu. A moça não era a descoberta de mim, era a re-descoberta de mim. A reconquista é sempre mais difícil, tu não achas? Podes vê-la agora? Não, sei que não. Só eu a vejo. Só eu a vejo dessa forma.
Que, sendo assim, fique contigo ao menos a rasura do que pode ter como imagem rósa e lívia desta moça, porque vendo-a como a vi, o que quer que tenha por ela te fará bem, como fez a mim. São Jorge, tão ocupado com teu dragão lá no alto, a mostrar às sombras longínquas toda tua coragem, suposta coragem, serias forte também para amar esta moça?

à Lívia.

Por que tu choras, ó minha flor?

à Irene Madeiro.
Por que tu choras, ó minha flor?
Por que te fizeram chorar?
Vejo uma menina...
Mas já não eras mulher?
Não. Sempre foste menina em saia rodada, a rodopiar...
Os príncipes ainda estão em teus sonhos, mas, agora, já aparecem desencantados...
É por isso que choras?
Engraçado, me parece que teu riso vem assim tão fácil...
Como não podem ver? Eu vejo!
É tão pouco o que te faz feliz... Como não podem notar?
És ainda aquela doce tímida criança, á esperar por carinhos negados...
Ainda te doem aquelas inocentes implicâncias, não é?
E que culpa tu tiveste para merecer? Não vejo culpa...
Doeram mais na alma, não foi?
Estranhamente, parece que sei...
Estranhamente, nesta hora, doe-me o peito e estranhamente entendo-te...
Não chores, ó bela flor!
Tu não merecias aqueles danosos insultos...
Tu és tão delicada.
Aqueles olhos, agora posso ver, nunca te enxergaram...
Não como tua beleza merecia.
Nem poderiam enxergar. Eram olhos de superficialidade...
E, por essência, tu és profundidade, bela flor!
Ainda choras?
Não chores mais... Eu te ajudo a recolher teus brinquedos e esconderemos eles, onde ninguém mais poderá achar...