terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Único

Para R.G

Não havia momento que não lhe fosse conveniente,
Se assim não o fosse, o faria.
E a vida ia seguindo...
Não precisava de afago que lhe fosse único e para sempre.
Não mais lhe servia ao seu jeito e gosto?
Descartava.
Era assim tão prático e favorável a si.
Assim, momentâneo.
A impressão que se tinha é que amores não muito lhe agradavam,
Bastavam-lhe as paixões, assim, instantes intensos e, sempre, sem um sempre.
Ou melhor, acho mesmo, ao que me parece, que nem paixões
Estar-se apaixonado leva certa dose de abobalhamento
Nunca, assim, se punha.
Sempre em alerta.
Poderia viver-se vivendo assim?
Ia...
Felicidade? Não sei se lhe visitava os dias.
Mas, assim, seguia e sorria
Fosse feliz como fosse.
Cada um sorri para o sol que inventa.
E não nos cabe ficar a propalar nossos juízos.
Enfim, tinha olhar grave
Manias de dizer-se verdadeiro.
Mas, o que figurava, ele jamais havia parado para pensar na sua verdade
Em como os homens inventam mundos e verdades próprias
Em como verdades, até estas, são assim relativas
E fogem, até mesmo, de quem, delas diz-se dono.
Quando se punha de pé, via-se ali uma das estátuas de um semi-deus
Tinha, assim, um ar de soberba
E parecia sempre ser um texto preso na garganta,
Daqueles que apenas se sente
Sem palavras.
Três dias e eternas noites
E nada do verbo que o inscrevesse.
Faminto que guarda pão duro e seco como ouro,
Imagem única e inesquecível guardada em retina.
Baú de ideias que foi ter com o sono.
E num primeiro olhar para o dia,
Desengasgada a fome!
Quis dizer ao mundo que o conheceu,
Que era, ali, toda a essência daquele homem,
Que o viu inteiro: seguro e vulnerável.
O que ele fazia quando, então, o conheceu?
Cortava, assim, quieto e só, as unhas dos pés.


Único.

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