quarta-feira, 29 de junho de 2011

Aparente...


Na penumbra  da noite também já verti grossas lágrimas.
Não foste só tu que choraste pelo amor que não veio.
A minha solidão não doeu menos que a tua,
Meu infortúnio também foi pesado.
Também provei do gosto amargo de perder a aspirada imagem ao despertar.
Não, não... meu ódio não foi menor que o teu
Já me vi puro escárnio .
E, no escuro da noite chuvosa, já chorei essa impura existência.
Sim, talvez eu já tenha visto o rosto da morte...
E ela me pode ter sido bela.
Ahh... e a mim, bem mais que a ti, a beleza não foi recanto.
O chão, o mais vil chão... a lama por onde rastejei, a tua face lívida jamais sonhou, sequer, fitar.
E o pesar dos teus versinhos, poetinha,  choram as magoas, por ti, criadas
Os meus, em falsa alegria, camuflam meu lado negro, agora, a ti revelado.

domingo, 26 de junho de 2011

Tardes de domingo...

O que ela tinha a oferecer era o bastante pra os anseios daquele homem.
Nada de mais ela queria, e tudo que podia, a ele, dava...
Havia algo de pactual naquela relação, mas não havia nenhuma obrigatoriedade,
Ambos satisfaziam-se e isso bastava.
A moça, a linda moça das tardes quentes de paixão aos domingos, em nada se importava com a existência daquela que, cordialmente, intitulara por Ela...
Eram mesmo até raros os pensamentos da moça em relação a essa existência.
Sabia claramente que cada uma pertencia a diferentes instâncias na vida daquele homem e seu lugar a satisfazia. Jamais quisera o outro posto, nem sequer a idéia lhe passara pela mente...
Mas o que levava aquele homem a querer a moça, se já possuía aquela, que era a Ela, e se a moça, em sua inquietação ante as amarras, jamais seria, a ele, coisa possuída?
Talvez nem ele mesmo compreendesse tal coisa e, até, por várias vezes pensou-se louco, questionou-se sobre a existência da tal moça... fonte de seus prazeres.
Talvez a existência dela, a ele, parecesse tão improvável, tão descabida pelo fato dele jamais ter visto vida assim... tão de perto...
E o mais estranho para ele é que, disso, precisava.
E a moça era bem assim... um turbilhão de coisas que raramente se vê em moças...
Era pura essência da liberdade e isso, às vezes, parece que o assustava...
 Mas passava o assombro já estava ele ali novamente a querê-la, a desejá-la...
E as tardes quentes de domingo seguiam sempre assim, quentes e felizes... havia vida naquilo tudo e a vida, simples vida era o suficiente... dispensava a idéia de amor...
A moça jamais construíra isso em sua cabeça, até repudiava com todas as forças tal idéia...
Foi então, quando, certo dia, pôs-se surpresa ao presenciar um olhar, um vago olhar daquele homem... havia algo a mais ali...
Tamanho foi o terror que lhe acometeu aquele breve instante do olhar que seu corpo gelou...
Como podia aquele homem tê-la olhado assim?
Havia muita ternura e muito afeto naquele olhar... Como ele pudera fazer isso?
Isso foi demais... Logo à moça? Tão livre...
De repúdio, a moça virou-lhe as costas e as tardes de domingo jamais voltaram a ser tão quentes como foram um dia.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Tão estranho...

Tão estranho...
Tu e todos os teus fantasmas afastaram, de mim, os meus.
E tão paradoxal o modo como tua insegurança deixou-me tão segura...
E eu segurei tua mão.
Teu mínimo sorriso deixou o meu assim tão frouxo, tão fácil...
Tua simples existência rasgou, em meu peito, larga expressão de felicidade
Dentes à amostra.
E o mundo, azul?
Talvez, ao teu lado seja sim, sempre azul... de vários tons.
E agora, depois de ti, tenho asas,
Mas elas não dependem de ti para alçar longos voos
Só querem... simplesmente querem... para  ti.
E se, antes, a mim, o mundo poderia ser pó
Agora, que seja mundo!
Com todos os erros e defeitos...
E que nele eu possa te amar
E que isso seja, não somente, mas também, motivo para rir de todo o resto.

domingo, 12 de junho de 2011

Esse é para o Domingão!!

Há muito para ser feito e pouca vontade de fazê-lo...
Tomo um gole de café como que para despertar a alma.
Não há meio.
Tento inscrever a amargura, a culpa, em folha manchada pelo tempo...
A caneta é falha...
Escreve irrelevâncias,
Não o que eu quero, o que eu preciso...
E o dia vai passando, o sol já mudou bastante de posição.
Vozes estridentes perturbam ainda mais a minha calma inexistente
E algo me diz que tudo dará certo... ou não...
É tão mais fácil ser otimista e não encarar as falhas, a sua culpa por tudo isso.
Mais um gole de café,
O gosto amargo me faz bem... o calor me incomoda...
Talvez eu devesse ser fria, mas não consigo.
Há sempre um sorriso bobo na face...
O que há de tão feliz? Pergunto-me.
Talvez eu também quisesse chorar e lamentar a minha dor...
Não posso.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Eu poderia...

Eu poderia deixar você partir e não derramar nenhuma lágrima, eu poderia simplesmente fingir-me indiferente a tudo isso, eu poderia afogar a tua pálida imagem num grande e profundo poço de água turva...
Não, mas não está tudo bem, não está.
Eu poderia apagar da memória todo aquele mundo que inventei para nós, eu poderia simplesmente fechar os olhos para aquele horizonte e encarar o chão... duro, negro, longa estrada, puro asfalto... e não chorar. Sim, eu poderia sorrir para tudo isso como se tudo não tivesse passado de infantil brincadeira...
Não, mas eu não... não está tudo bem.
Eu poderia, em esforço descomunal, olhar para tua nova felicidade e sentir-me bem, poderia dissimular que há algo de bom em mim... e não demônios em fúria...
Sim, talvez eu pudesse... não, mas não.
Eu poderia, ainda, falar-lhe baixinho palavras mediocremente conformadas se esta fosse, a mim, a melhor saída... eu poderia... se um grito não me sufocasse, me tirasse todo o ar... eu poderia... eu poderia se eu te amasse mais que a mim...
Não, mas não... não é assim e não está tudo bem.
Eu poderia, até, querer reconstruir a minha vida se meu maior objetivo não fosse destruir a tua... eu poderia olhar para a dor e não lembrar de você, do que eu quero para você...
Sim, eu poderia, mas não, não...
Não está tudo bem.

terça-feira, 7 de junho de 2011

CÉU DE LONA.

As luzes foram apagadas, logo em seguida, novamente, tudo era luz.
Um Anjo, sim, um Anjo estava no meio do picadeiro,
Ela, que estava tão pouco interessada, pôs-se a observar, quase envolvida por um quê de magia.
Esqueceu-se de tudo, da vida: começou a viver um sonho, uma fantasia...
Esqueceu-se, até do noivo, que estava do seu lado, também, atento ao espetáculo, no entanto, sem o torpor que tomara de conta dela.
E o Anjo? Estava lá, intocável, magnífico, quase perfeito...
Vendo-o, transformou-se, novamente, em ingênua criança (mais ingênua, do que propriamente criança), acreditou, mais uma vez, em príncipe, e quis ser princesa... como quis!
O Anjo voava, mas não tinha asas...
E, mesmo assim, ela via asas.
Quis voar também, mas não por asas próprias
mas sim nos braços proibidos...
os do Anjo.
Então, ela fechou os olhos, quis acordar...
não pode.
Entendeu o porquê das moças fujonas
e por um instante, também, pensou como seria fujir
Vendo, no fundo da alma, a excitação que tal idéia lhe causava,
Sentiu medo, e tentando apagar essa idéia da mente, balançou a cabeça o mais rápido que pôde.
Mas a idéia não saiu.
E vieram as outras atrações, o fim do espetáculo, mas ela já não era a mesma, o Anjo não saíra dos pensamentos.
Ao levantar da cadeira, o fez quase que involuntariamente, olhou o noivo, sentiu que, com muito carinho, amava-o - mais pelos tantos anos juntos, do que por outra coisa.
Mas e  o Anjo?
Esse, sem saber, gravou na mente daquela menina/mulher a sua imagem, com a qual ela, dia e noite, fantasiava inúmeros desfechos para o sonho, do qual ela nunca mais acordou."

Sim...são verdes...

A luz do quarto está apagada, mas a janela está aberta.
É noite... Quase dia
E não há Hipnos que me venha visitar...
Toca baixinho uma música, quase um choro...
Um canto arrastado, sofrido... algo sobre amor e liberdade.
Discretamente, um riso irônico corta-me a face...
Amor?... Dane-se o amor!
Penso isso com a calma que não é própria à expressão. Devo ter me acostumado com a idéia...
Tudo isso puxa você, aquele que parecia ter surgido para me salvar... daquela idéia... daquela idéia...
Lembro da força que as drogas têm, do gosto amargo do vício... do golpe da abstinência.
Você poderia ser um vício eterno, mas você não quis... você não quis...
Sequer deixou que eu tomasse a primeira dose, que eu me perdesse na névoa da primeira tragada...
Você simplesmente não deixou.
Então, eu me pergunto: Como criei essa dependência? De onde tirei isso?
Um vagalume cruza a janela...
Há quanto tempo não vejo um vagalume?
São verdes, sabia?!... Sim, são verdes...
Em horas tantas, onde estarás? Deve dormir... tranqüila e calmamente...
Como pode? Como pode?
E eu aqui.
Eu que não tenho, sequer,  o sonho para te recriar perfeito,
Que não tenho, sequer, o sonho para falsamente falsear teu falso gosto.
Ah! Como eu te odeio! Como eu queria cravar minhas unhas na tua odiosa existência e sufocá-la.
Como eu queria te fazer sentir deveras essa angústia que bobamente tu inventas...
Talvez haja sim algo de muito ruim em mim.
E distraidamente me vem: Qual cheiro terás?
Louca, ainda penso nisso...
Não!! Eu sei... Você já me disse... Eu NÃO posso.
Que quero eu ainda? Talvez um milagre...
Mas como, se tu nem acreditas em Deus?
Vejo os primeiros raios de sol.
Para onde foi o vagalume? Eles são verdes, sabia?
Ou tu também não acreditas neles?
Já viste um?
Eu vi e ara verde... Odiosamente verde...
Mas agora? Agora o dia clareia...
Para onde vão os vagalumes quando o sol desponta no céu?
Agora, sinto que preciso de outra tragada daquilo que nunca tive...
Onde estarás tu?

domingo, 5 de junho de 2011

Delírio

Sou então toda volúpia... quando me ponho a pensar em ti.
Desejos correm de forma melíflua corpo e pensamento.
Ei de ter-te, meu amado, ei de ter-te...
De amores tantos que por ti sinto, não me cansa a espera, não me cansa o pensamento.
E o desejo que aqui impera, há de haver dia em que será cessado.
Ei de ver-te em delírios de gozo e isso será, a mim, imagem de um Zeus revelado.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Aquele garoto...

Quando fazia música, fazia-se música. Dava pra ver...
Era alma imersa em outros universos, de fato, também inventados, assim como os meus.
Pretensão dos apaixonados, queria ser-lhe entusiasmo criador...
É certo, jamais seria.
Mesmo assim, ver, simplesmente ver... bastava-me:
Punha-se de olhos cerrados a sentir o verbo vir, a melodia chegar...
Enfim era canto.
E os meus olhos, em tantas vezes que o procurava, achavam-o sempre envolto nessa atmosfera.
Certa vez, cheguei a ver as mimosas notinhas que deixava cair por onde passava.
Descuidada como sou, tropecei em uma clave de sol!
Isso o fez olhar para trás e, em gesto de reprovação, balançar a cabeça.  
Senti-me ridícula, lembro.
Tinha olhos não sei de que cor...
Então, eu a inventava:
Dias de sol, dava-lhe olhos castanho-claros, não sei por qual motivação.
Dias de chuva, ao fitar grandes nuvens carregadas  conferia-lhe à face, por minha memória resgatada, dois pontos negros, mínimos abismos...
E esses sempre, sempre lhe caiam bem...
Pois sempre me pareceu trazer algo de perigoso e sombrio.
Eu, que estava diariamente a tagarelar impropérios a todos quantos nem quisessem me ouvir, que estava sempre a rir convulsamente de bobagens, poderia cobiçar aquele que se resguardava ao choro quase silencioso de acordes pesarosamente tristes?
Queria eu chorar junto àquele coração ferido,
Escutar as nebulosas batidas de perto.
Então, com a presteza de um raio percebi. Uma constatação óbvia...
Chovia e, no breu daquela retina inventada, no lamento da melodia triste, só havia uma verdade.
E, de repente, uma lágrima caía, eu não a via, mas caía... e era minha.
Não, não tinha fim aquele abismo...
Mas, engraçado, eu não tive medo.