terça-feira, 2 de agosto de 2011

Insanidade...

Por que eles gritam, meu amor?
 O quarto é tão branco, o vento brando... e o mundo leve...
As enfermeiras usam branco também... é tudo tão limpo e os comprimidinhos, tão coloridinhos, trazem tanta paz...
Não sei por que eles gritam, meu amor...
A cama é macia, não tanto, mas dá pra sonhar... cheira bem...
Tudo cheira bem.
E...sabia que parei com aquela minha mania de chorar?
Não... não choro mais...
Eles ainda gritam, meu amor... por quê?
É tudo tão bonitinho... a grama é verde e o moço que nos vigia é tão educado...
Tanto... você nem sabe. Certa vez, ele me chamou de linda...
Linda... “Venha cá, linda, não é permitido entrar aí”. Ele falava de uma sala...
Eu nem ia entrar... mas ele disse “linda”...
Viu só, amor, “linda”!
Eu não entendo por que ainda tem quem grite...
Até a comida...é tão boa... sem sal, mas é boa...
Só não gosto porque não me dão talheres, sabia?  Só uma colher... uma bonita e útil colher...
Amor, não é reclamando, mas sinto falta de facas... Por que não me dão facas?
Foi você que pediu, amor?
Mais eu te prometi, amor... não vou mais fazer aquilo que fiz... eu prometi!
Ah, outro dia colocaram música pra gente ouvir, sabia?!... Lembrei de você...
De como você tocava pra mim...
Só não foi melhor porque uma moça gritava... eu não podia escutar todas as notas... nem todos os instrumentos...
Mas foi bom... era música...
Hoje percebi... você nunca mais veio me visitar...
Por quê?
Eu sei... você não gosta muito daqui, não é? Tem essa gente que grita...
Mas eu não grito, amor... não mais...
Quando você virá?
Você virá, não é?
Amor?

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