domingo, 25 de setembro de 2011

στειρότητα

A praça estava movimentada, uma profusão de cores, de risos de crianças, aquela tagarelice natural. Vozes infantis se confundiam. Pequeninos correndo, caindo, levantando e voltando a correr. Havia também os mais introspectivos: engenhosas esculturas de areia, brincadeiras solitárias. Mas todos com seu encanto.
Ela, cabeça inclinada, apoiava os pensamentos com o braço e o braço apoiava-se sobre a dura mesa de concreto.
Lançou um olhar longe, via todas aquelas inocentes almas, e via a si mesma, só, companheira de sua própria existência, sem beijos de bom dia, sem noites de sono atrapalhadas por monstros inexistentes. Só os seus, que, mesmo abstratos, não eram fruto de imaculada imaginação. Sim, os seus existiam.
Talvez, doesse um pouco a ausência da maternidade, talvez o ventre sentisse pelo fruto que nunca veio.
Lembrou de quando, ainda menina, acalentava com velhas cantigas ensinadas pela mãe as tão inanimadas bonecas. Era feliz e ousava sonhar.
Lembrou também que, já bem mocinha, quase mulher, pode ver os desencantos. Optou, tão cedo, por não mais pôr ideia nessas coisas... e,de pensar tão forte na ideia outra, alcançou o intento: secara.
Adulta e só, agora, já sentindo o peso dos anos, via aquelas crianças e as amava, mesmo sem as conhecer. Enxergava vida.
Quando, em movimento natural, voltou os olhos para si, à mente, compôs-se perfeita metáfora: era um vaso oco, em linda porcelana. Urna que apenas espera o dia de enclausurar a morte.

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